Uma simples caneta

O que uma simples caneta pode fazer com você?

Depois do acontecido, fiquei pensando numa resposta para essa pergunta. O que uma simples caneta poderia fazer comigo?! Eu não entendia porque eu reagia daquela forma...

Era noite. Eu estava tão estressada... (eu sei, isso não é bom). Não sabia o que fazer para passar aquilo. Era véspera de semana de provas. Sempre tive isso comigo... Que preciso estudar! Gasto horas e horas estudando, e às vezes, horas e horas pensando em fazer isso. Essa era uma daquelas semanas. Uma daquelas em que você fica pensando em estudar, mas dorme. Pensa em fazer, mas come. Pensa, pensa, pensa... E acaba lendo outra coisa. Pra mim, tal atitude minha é inaceitável. Minhas resposabilidades precisam ser cumpridas! Eu preciso estudar e ponto. Estava ficando desesperada... 15 provas em 6 dias.

Acordei à noite naquele dia. Estranho dizer isso, né? O que aconteceu foi que dormi à tarde e acordei umas 19h da noite. Era quinta-feira. Quando levantei, senti uma angústia no coração... Aquele quarto todo bagunçado, toda aquela matéria para estudar, todas aquelas outras coisas pra pensar e fazer... AH! Fui ficando reprimida. Queria ser forte: ir e fazer logo! Orei pedindo a Deus que me abençoasse nos meus afazeres, apesar dos meus erros anterioires em executá-los. Ele é Deus. Eu sabia que, apesar dos apesares, Ele iria me abençoar e cuidar de mim. Confiei!

Fui até a cozinha, onde estava a minha avó e disse:
-Vó... Eu não estudei nada! Me ajudaaa... - disse encostando na parede.
-Ué, minha filha... Vá estudar agora. Você ainda tem tempo. É cedo...
Aí não aguentei. Como assim "é cedo?" Perdi uma semana inteira de estudos prolongando aquele momento em que sentaria e devoraria todos os meus cadernos e livros. Não poderia ser cedo!
-Vó... Perdi uma semana inteira. Num é cedo... Olha só a hora! Não queria dormir tarde hoje! - eu estava com uma revolta dentro de mim mesma. A culpa era toda minha.

Minha avó sentiu a minha angústia. Eu estava quase chorando... Procurando em alguém a solução para o meu problema. Em alguém que nada poderia fazer por mim. Já era a gota d'água. Via os segundos passando no relógio e eu sem fazer nada para recuperar o tempo perdido. Parecia que eu não tinha mais forças. Por algum motivo, não conseguia me mover.

Estressada e angustiada, fui até o meu quarto pegar uma caneta azul (imagem do post). Precisava anotar alguma coisa! Precisava me organizar. Acontece que há algum tempo minhas canetas andavam sumindo. Não sei como e nem porquê. A única coisa que não poderia ter acontecido naquele momento era que a caneta que eu precisava estivesse sumida, sem que eu a tivesse tirado de lá. E isso foi exatamente o que aconteceu. Ela havia sumido.

Cheguei ao meu maior nível de estress. "Cadê a minha caaaaneta?!" foi a primeira coisa que, quase gritando, perguntei. Minha avó, percebendo meu estado meio doido, veio ao quarto calmamente e disse: "Que foi, Julia?" e eu respondi "Vó, minha caneta sumiu!! Não te disse que tão pegando as coisas daqui?!!! Quem foooi? Agora que preciso escrever uma coisa importante, não acho! Aaaaahhh... Por que vivem fazendo isso, hein?" . Sim, cheio de "pontuações" do jeitinho que está escrito. Eu estava muito triste... A caneta, na verdade, não era tão importante. Foi somente mais uma coisa pra mim. Ela não poderia ter sumido naquele momento. Ou talvez, devesse...

Minha avó, muito compreensiva, foi até o seu quarto, abriu uma caixa de canetas que coleciona há anos, pegou uma e disse: "Toma, eu te dou uma minha".
Aquilo pra mim foi mais do que eu poderia suportar. Parece um ato simples, né? Mas... Aquilo me situou. Me pôs de volta no meu lugar. Eu estava descontando em alguém que não tem culpa das minhas escolhas e nem dos meus problemas e, mesmo assim, ela se ofereceu para resolver um, ao menos, deles. Quis me dar uma das suas canetas... Para ela não era nada. Ela me disse "Pega, minha filha. Eu tenho muitas aqui! Não vai me fazer falta...". Ela deveria ter umas 60. Vi quando abriu a caixa. Mas, sabe... aquela faria diferença. Era da sua coleção. Era muito importante. Se não para ela, para mim.

Comecei a chorar.

-Vó, não... Você não tem que me dar a sua caneta. Não foi você quem pegou...
-Deixa de ser boba, menina! Eu tenho muitas aqui, olha! Pega essa, eu te dou! - quis colocar na minha mão.
Tirei a mão e disse:
- Vó... - chorando muito - eu não quero pegar a sua caneta. Ela é SUA! Não minha... - Fui correndo para ao meu quarto.
Ela veio atrás de mim com a caneta na mão.
-Pega. Pode pegar! - Olhava para mim com um olhar curioso.
Me recusei.
Minha avó, num ato gentil, colocou a caneta no meu porta-canetas e disse:
-Vá tomar um banho agora, comer alguma coisa e depois estudar, minha filha.

Fui para o banheiro. Meu Deus... Eu não sabia o que era aquilo. Um ato simples. Até bobo... Era só uma canetinha azul. O que tinha demais nela? Eu não conseguia parar de chorar. Não conseguia me olhar no espelho. Meus olhos estavam muito vermelhos. Não entendia nada.
Me ajoelhei com a porta fechada. Falei com o meu Deus naquele momento. Pedi perdão a Ele como não pedia há muito tempo... De coração totalmente aberto, eu pedia a que Ele me perdoasse, me ajudasse e me fizesse parar de chorar. Apenas isso. Não pedi para entender.


Aquele dia passou. Nem me lembro se consegui estudar ou não depois de tomar aquele banho. A semana de provas chegou. Então, gabaritei a de história e fui muito bem em todas as outras que tive naquela semana, surpreendentemente. Tudo, finalmente, passou. Quase tudo, na verdade. Tenho certeza que a imagem da minha avó me dando aquela caneta que eu não merecia e que não fiz nada para merecer vai continuar bem viva na minha memória ao longo da minha vida.

Como eu disse, eu não pedi para entender, mas me foi explicado. O Senhor colocou no meu coração exatamente o que tinha acontecido. Fui entender depois de estar realmente calma. Na verdade, é preciso que estejamos assim, calmos, para que consigamos ouvir o que Ele está nos dizendo.

O que aconteceu foi que Jesus usou um exemplo simples, algo presente na minha vida, para Se mostrar a mim, sendo que eu nem merecia isso. Ele pegou uma caneta para representar a sua graça. Apesar dos meus erros, apesar das minhas culpas e escolhas, Ele as assume e as toma para Si. Eu não merecia que minha avó me desse uma de suas canetas para que eu pudesse recuperar o que havia perdido... Mas ela escolheu me dar.
Deus escolheu me dar o seu amor, mesmo eu não fazendo nada para o merecer. Ele me deu a sua mão quando eu menos merecia, mas quando eu mais precisava.
Então entendi porque chorava tanto, tanto, tanto ao lembrar daquilo. Passei uma semana inteirinha sem conseguir me segurar. Não conseguia ver aquela caneta no centro do meu porta-canetas (a da imagem), porque chorava muito. Hoje eu entendo que o Espírito Santo tocava em mim para me mostrar o amor e graça de Jesus, em prática, na minha vida.

Que isso, hoje, fique para você também. Talvez você não tenha conseguido entender tão bem assim o amor de Deus... Muito menos pelo meu exemplo. Mas não se preocupe, Ele ainda vai te mostrar. Ele ainda vai usar coisas da sua vida para mostrar que Ele te ama e está sempre disposto a repor o que você perdeu, mesmo quando você não merece, assim como eu.

Deus já deu a mim e a você a principal coisa que não merecíamos de jeito nenhum: A sua salvação; a sua graça. Isso teve um preço e você VALEU esse preço.

Lembre-se de agradecer a Jesus todos os dias da sua vida por isso. Porque, apesar dos seus erros e defeitos, Ele está sempre aí, ao seu lado, para te dar a mão quando você mais precisar.




"Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus". - Filipenses 1:6